Diversidade Cultural

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É preciso que saibamos respeitar as diferenças!!!!

Bem vindos ao Blog da Tolerância!

Rico em imagens e conteúdo informativo e educativo, o Blog da Tolerância tenta passar para os leitores, a importância do simples ato de respeitar e tolerar as diferenças, sejam elas, econômicas, sociais, religiosas e referente à orientação sexual. O mundo precisa de pessoas mais tolerantes e compreensivas!!!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por que temos que dormir à noite?

A escolha desse período para dormir está ligado à evolução humana. Como um dos sentidos mais importantes para nós é a visão, os homens pré-históricos tinham dificuldade de realizar tarefas à noite e, com o tempo, nosso organismo se preparou para descansar nesse horário. Todos os seres vivos têm o mecanismo de controle interno, chamado relógio biológico, que regula as atividades do corpo, a fome e o sono. À noite, a temperatura mais baixa e o ambiente menos luminoso ajudam o relógio biológico a avisar o cérebro que é hora de dormir. Quem troca o dia pela noite confunde o relógio biológico. Isso pode causar falta de concentração, cansaço e até alterações na saúde. Para recuperar as energias, um adulto deve dormir de 6 a 8 horas diárias. As crianças, de 9 a 10 horas.

O espelho

Falar mal da TV virou moda. É "in" repudiar a baixaria, desancar o onipresente eletrodoméstco. E, num país em que os domicílios sem televisão são cada vez mais raros, o que não falta é especialista no assunto. Se um dia fomos uma pátria de 100 milhões de técnicos de futebol, hoje, mais do que nunca, temos um considerável rebanho de briosos críticos televisivos.
Depois de azular as janelas das grandes e das pequenas cidades, os televisores ganham as ruas. Hoje não se encontra um boteco, padaria ou consultório dentário que não tenham um. Há até taxistas que trabalham com um olho no trânsito e outro na novela. E, nas esquinas escuras onde se come o suspeitíssimo cachorro-quente, pode-se assistir ao "Jornal Nacional" e ser assaltado em tempo real.
Mas, quando os "especialistas" criticam a TV estão olhando para o próprio umbigo. Feita à nossa imagem e semelhança, ela é resultado do que somos enquano rebanho globalizado. Macaqueia e realimenta nossos conceitos e preconceitos quando ensina, diariamente, o bê-á-bá a milhões de crianças.
Reclamamos que, na programção, só vemos sexo, violência e consumismo. Ora, isso é o que vemos ao sair à rua. E, se fitarmos o espelho do banheiro com um pouco mais de atenção, levaremos um susto com a reprise em cartaz. Talvez por isso a TV nos choque, por nos mostrar, sem rodeios, a quantas anda o incosciente coletivo. E não adianta dourar a pílula; já tentaram, mas não deu Ibope.
Violência na TV
Aqui e ali, alguns vão argumentar que cultivam pensamentos mais nobres e que não se sentem representados no vídeo. Mas a fração que lhes cabe está lá, escondidinha como é próprio às minorias. Está nos bons documentários, nas belas imagens dos eventos esportivos, na dramaturgia sensível, no humorismo que surpreende, nos desenhos e nas séries inteligentes, no entrevistador que sabe ouvir o entrevistado, nas campanhas altruístas.
Reclama-se muito que, nas novelas, os negros fazem, quase sempre, papéis de subalternos. Mas é essa condição que a sociedade reserva à maioria deles, e também à maior parte dos nordestinos, na vida real. O que a televisão fornece é um retrato da desigualdade no país.
E, quando explora a mulher, estigmatiza gays, restringe o mercado para o ator idoso ou vende cerveja, maledicência e atrocidade na programação vespertina, ele reflete o mundo dominado pelo macho-adulto-branco-capitalizado.
A televisão mostra muita violência o dia inteiro, gritam os pacifistas na sala de estar. Como se não houvesse milhões de Stallones, Gibsons, Van Dammes e Schwarzeneggers armados até os dentes no Afeganistão e nas favelas brasileiras.
É natural que uma parte de nós se revolte, o que parece tão compreensível quanto inócuo. Campanhas contra a baixaria televisiva lembram a piada do marido traído que encontra a mulher com o amante no sofá da sala e, no dia seguinte, vende o imóvel para resolver o problema. Garrotear a TV é tapar o sol com a peneira.
Enquanto a discussão ganha adeptos, continuamos devorando nosso tubo de imagem de estimação. Depois, de barriga cheia, saímos à rua para ratificar, legitimar com pensamentos, palavras e atitudes, que as coisas são mesmo assim e que, pelo jeito, a reprise continuará.
Aquele repórter sensacionalista que repete à exaustão a cena de linchamento, o apresentador que tripudia sobre o drama do desvalido, a loura que vê na criança um consumidor a mais, o jovem que tem num "reality show" desumano a alternativa para sua falta de horizonte, a menina precocemente erotizada, no fundo, somos todos nós.

sábado, 22 de janeiro de 2011

A permanente descoberta


Ser jovem depende de pele, de idade, de ideias? Ser jovem se constata na certidão de nascimento ou no espírito de cada um? É possível  ser jovem na infância e na adolescência? E na velhice? Será que todo jovem é realmente jovem na juventude?

Ser jovem

Ser jovem é não perder o encanto e o susto de qualquer espera. É, sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutável.
É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer festa, o jogo, a brincadeira,a lua, o impossível, o distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.
Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção, antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.
Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, cerveja e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar de carro velho e roupa sem amargura. É bater papo com o amigo, curtir o ônibus e detestar meia marrom.
Ser jovem é beber chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois.
É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio do cachimbo, de bala jujuba, de manipulação, de ser usado.
Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e apoiar seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem é não perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado ("_Já conhece fulano?") morrendo de medo.
Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir à lua ou conhecer Finlândias, Escócias e praias adivinhadas. É sentir cheiros raríssimos: cheiro de férias, cheiro de mãe chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, camisa nova ou toalha lá do clube.
Ser jovem é andar confiante como quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia. É acreditar em frases, pessoas, mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas ai da vida se não fosse isso.
É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gostode seu silêncio amargo ou agridoce.
Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim cheiroso. É ter tédios passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser capaz de anestesias salvadoras.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que tenha, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver de fundo musical do seu cantor favorito. É abraçar esquinas, mundos, espaços. luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha com o profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, cocada, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de SER. 

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Arquiteto de outro mundo

Moebius Strip II (Red Ants), de Escher
Conseguiria você imaginar uma construção em que a parede é também chão e o chão é também teto? Parece algo impossível – e realmente é, em nosso mundo cotidiano. Mas não é no papel. Para encanto e espanto de muitas pessoas, o artista gráfico Maurits Cornelis Escher mostrou uma composição em que parede, chão e teto coincidem e formam um conjunto lógico. A gravura abaixo, feita originalmente em três cores, chama-se Outro Mundo.
Maurits Cornelis Escher

Conceber outros mundos e concretizá-los com impressionante domínio técnico (quase sempre na forma de gravuras em madeira e pedra) era uma especialidade de Escher. Escher, que nasceu nos Países Baixos em 1898 e viveu até 1972, foi também, além de artista, matemático, fotógrafo e arquiteto.
Neste século, artistas e cientistas não conseguiram se entender e comunicar. Escher foi uma das exceções. Ele adorava a matemática e muitas de suas gravuras partem de figuras geométricas e formam fascinantes quebra-cabeças. Apesar do ar sisudo, que podemos notar em seus auto-retratos, ele também se divertia em brincar com as ilusões de ótica.
Na juventude, Escher viajou muito. Viveu vários anos na Itália e, a cada primavera, costumava percorrer o país. Durante as viagens, ia desenhando tudo o que lhe interessava. No inverno, usava os desenhos para fazer suas gravuras. Também viajou pela França e Espanha e, mais tarde, Suíça e Bélgica. Numa viagem pela costa da Itália rumo à Espanha, fez cópias detalhadas dos mosaicos mouros vistos em Alhambra e em Córdoba. Já nessa época sentiu-se atraído pela possibilidade, que iria explorar vida afora, de dividir toda a superfície plana do papel com formas regulares. Escher apreciava o efeito rítmico dessa repetição. Mas, em vez de usar os motivos puramente decorativos dos mosaicos mouros – repetições de quadrados, losangos, hexágonos e outras figuras geométricas -, ele começou a usar elementos da fauna e da flora.
Pássaros e peixes, répteis e plantas. Na primeira vez em que olhamos para essas gravuras dificilmente percebemos tudo o que há nelas para ver. Com suas formas recortadas encaixando-se umas nas outras, ilusões ópticas ou construções impossíveis, elas praticamente exigem uma segunda olhada. E quanto mais nos detemos nessas imagens, nos surpreendemos com o que antes não havíamos notado ou compreendido. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Por que sentimos nojo?

No que depender do nosso cérebro, a escolha de algo para comer é fácil. Se alguém comeu e não gostou, o mais seguro é você seguir o exemplo e nem experimentar. É para isso que serve o nojo, ou desgosto – aquela sensação de estômago embrulhado que fica estampada no rosto quando o que chega aos olhos, ao nariz ou à boca não é digno de ser engolido.
Assim como o cérebro tem regiões que cuidam de cada um dos gostos que sentimos, ele possui também outra região cuja especialidade é registrar gostos desagradáveis, que provocam o tal desgosto, o nojo. Informações de vários sentidos podem disparar um sinal nessa região cerebral do desgosto. Pode ser a visão de algo repulsivo no seu prato, que ainda se mexe, ou que a sua cultura não considera comida; podem ser as manchas de mofo no pão ou o cheiro forte de carne estragada; ou um gosto amargo, usado pela natureza para indicar prováveis venenos, e que se forte o suficiente pode até causar vômitos – a maneira de seu corpo garantir que da boca aquilo não passa. Além disso, o cérebro lembra de experiências nojentas anteriores e garante que da próxima vez que você topar com aquela comida, ela não entrará na sua boca. Pelo menos, não no que depender de você.
Sentir nojo é tão importante que o mesmo alarme-do-desgosto, disparado pelo cérebro quando você já cheirou ou comeu algo ruim, também é acionado à simples visão de uma cara de nojo em outra pessoa. Isso é muito importante, porque a expressão de nojo é universal: embora cada povo tenha a sua lista de comidas preferidas ou desagradáveis, pessoas em todas as culturas e de todas as etnias torcem o nariz da mesma maneira, com a mesma careta, quando não gostam do que comem.
O problema é que crianças em geral, muito mais sensíveis a sabores amargos, e adultos cheios de frescura protegem bem demais seus cérebros e estômagos, e torcem o nariz para qualquer comida que não seja perfeitamente segura, ou que eles vejam outra criança recusar. O que explica, aliás, por que o ‘prato infantil’ é universal. Tô pra ver alguma criança torcer o nariz para o famoso bife-com-batata-frita...

Por que choramos?

Lágrimas escorrendo pelo rosto são um inconfundível pedido de ajuda. Não que os outros comportamentos do choro sejam menos chamativos: soluços e berreiros, assim como queixo trêmulo e boca com cantos virados para baixo, também são sinais de que algo não vai bem. Mas, apesar de reconhecermos cada elemento do choro com facilidade, os mecanismos cerebrais que o controlam não são bem conhecidos. Em parte porque costuma ser difícil – ao menos para adultos – chorar sob encomenda em laboratório.
Claro que sempre é possível usar cebolas para colher lágrimas. Nesses casos, as lágrimas ocorrem em resposta à irritação do olho causado por um gás liberado pela cebola cortada. Lágrimas, no entanto, são produzidas o tempo todo. Elas têm o papel de manter os olhos limpos, lubrificados e em bom estado. O que sobra é drenado para dentro do nariz pelos canais lacrimais, situados no canto interno das pálpebras. A questão ainda sem resposta é como certas situações fazem a produção de lágrimas aumentar tanto que os canais não dão conta do recado: o que consegue ser drenado escorre pelas narinas; o restante transborda e rola pelo rosto.
As dúvidas não param por aí. Hoje sabemos que, quando choramos, nossa respiração muda, o que nos permite fazer barulhos diferentes dos que normalmente, produzimos. Essa alteração respiratória é tão importante que ocorre também com outros animais. Os sons do choro são um poderoso meio de comunicação, sobretudo na falta de palavras. Filhotes de macacos choram por suas mães; cachorros choramingam por desconforto ou fome. Humanos recém-nascidos são craques nesse tipo de comunicação. Qualquer mãe de primeira viagem distingue entre um choro sustentado que indica dor e aquele ritmado do bebê quando quer atenção.
Se apenas os sons do choro já são chamativos, qual a utilidade de derramar lágrimas? Não se sabe ao certo, mas chorar parece proporcionar alívio imediato. Muita gente diz que se sente melhor após derramar algumas lágrimas. Talvez elas ajudem a eliminar substâncias produzidas durante o estresse. Ao menos em outros animais as lágrimas têm essa função de “descontaminação”. As de bichos que vivem em água salgada – como focas e crocodilos -, ajudam a eliminar o excesso de sal no corpo. Daí vem a expressão “chorar lágrimas de crocodilo”, isto é, choramingar sem um pingo de emoção verdadeira.
Alguns artistas são craques nisso. Algumas crianças também.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

As pequenas vantagens de virtudes grandemente subestimadas



Houve um tempo em que tudo girava em torno dela: ter honra era ser um legítimo membro da tribo; não ter, preferível morrer. O conceito de honra, na sua interpretação mais tradicional, nasceu na Grécia antiga, foi remodelado em Roma e reemergiu na Idade Média. Na época feudal, a honra era uma qualidade atribuída aos nobres, essencialmente guerreiros, cuja função social era proteger o rei, as crianças e as mulheres. Hoje, a honradez pode ser mais relacionada à fidelidade aos próprios princípios ou ao próprio eu. Ou, no popular, ter vergonha na cara. É por isso que o tribunal da própria consciência continua a pesar mesmo quando se alega que "todo mundo faz", a começar dos "caras lá de cima", então "que mal tem" em levar a avozinha para passar na frente na fila de comprar ingresso, desrespeitar a procedência na hora de pegar uma vaga no estacionamento do shopping ou deixar uma toalha guardando lugar o dia inteirinho na espreguiçadeira da piscina disputada? O mal, evidentemente, está em desprezar a própria dignidade.




O conceito de integridade tem raízes na Grécia antiga, onde o sujeito íntegro era chamado aplos, uma peça só - projetando com esse nome a imagem de inteireza, de alguém que não tem duas palavras, duas lealdades. Não é íntegro aquele que transige em valores inegáveis de uma sociedade. Integridade é não abusar do poder, não desmerecer os outros, não tripudiar. E também outras interdições mais prosaicas: não se esgueirar melifluamente na fila de embarque, não "deixar o carro aqui só um minutinho", não dizer que vai atender "só esta chamada" no meio da refeição compartilhada e não começar nenhuma piada dizendo "esta é politicamente incorreta".




As boas maneiras não apenas não são coisa de um passado mítico de galanteria, mas ficaram mais importantes ainda na vida contemporânea. Até umas três gerações atrás, boa parte da sustentação emocional e material das pessoas vinham dos familiares. Hoje convivemos muito mais com amigos e desconhecidos, e,  nesse caso, ser afável é uma vantagem. A cortesia melhora a autoestima da pessoa a quem ela foi dirigida e, dessa maneira, torna as relações sociais menos tensas. A regra geral, e não escrita, de decência estabelece que todos devem ser tratados com os requisitos básicos da cortesia - "bom dia", "por favor", "obrigado" e "até logo" -, os quais devem ser redobrados em relação a quem ocupa posições menos destacadas. Ignorar a existência de quem presta serviços como trazer o seu carro ou limpar a sua sala é prova de insensibilidade. Ou boçalidade.




Na hora da raiva, das bravas, qual é o primeiro xingamento que lhe vem à cabeça? Em geral, nesses momentos o ser humano não é criativo e invoca diferenças de comportamento sexual, de origem familiar ou de grupo étnico. Pois os treinamento da aceitação das diferenças deve começar exatamente por aí. de todas as virtudes do campo da civilidade, a tolerância é a que mais exige autoaprendizagem. Quem acha que nunca, jamais conseguirá cumprimentar um torcedor do time adversário pode começar com as coisas mais simples, como não ter espasmos visíveis diante do abuso do gerúndio ou prometer a si mesmo ao sair de casa que pelo menos naquele dia não vai comparar nenhuma mulher à fêmea de uma famosa ave natalina.
Tolerância tem a ver com comportamentos diferentes daqueles que valorizamos e pelos quais temos repugnância. Exercê-la é importante não só para a convivência social como para a sanidadde mental.




Levar uma fechada, ouvir uma buzinada várias milésimos de segundo depois que o sinal abre, esperar que o manobrista pegue o carro largado na sua frente com a maior disciplência. O stress e o anonimato propiciados pelo trânsito nas grandes cidades se combinam para testar o tempo todos os limites do autocontrole. Para não se transformar num ser desatinado em busca de vingança, só existe uma reação possível: olhar tudo aquilo de um ponto de vista distanciado - ou, se preferir, superior. Podemos aliviar a raiva tomando distância do que está acontecendo. Alguém me xinga, por exemplo,  e eu reajo como se a ofensa fosse um pacote que recebo e devolvo fechado, porque não me considero o destinatário. O ato de grosseria está relacionado com o estado mental do agressor, não como o do agredido. Quem acha que tem temperamento forte, sangue quente ou pavio curto, e usa essas expressões para justificar comportamentos agressivos, deve considerar a hipótese oposta. A pessoa que não controla a agressividade no fundo tem ego fraco.




O termo civilidade vem da palavra civitas, que quer dizer cidade. Tem civilidade, portanto, aquele que sabe viver em sociedade, um sistema refinado ao longo dos tempos. No século XVI, por exemplo, o filósofo holandês Erasmo escreveu uma espécie de manual de comportamento. Ele explicava que não devemos cuspir à mesa e nem na mesa, nem beber a sopa direto na sopeira, nem colocar as botas em cima da mesa. Soaria entretanto fazer isso hoje, mas houve um tempo em que os nobres precisaram ser educados para melhorar seus modos. Na construção da sociedade ocidental, o mesmo conceito que abrange algo aparentemente acessório, como os bons modos à mesa, inclui o complexo mecanismo do respeito entre as pessoas, base das relações civilizadas. Hoje, o que entendemos como a ideia central da civilidade é justamente o respeito pelos outros. Os bons modos mostram o nosso próprio que temos estima por ele. Uma pergunta simples que aplica o conceito de civilidade em diferentes situações da vida cotidiana: o que posso fazer pelo outro para que a vida de todos seja suportável?




Todo mundo quer se dar bem, mas, se fizer qualquer coisa para conseguir isso, o mundo todo vai acabar mal. Não é preciso nem voltar ao estado natural, ou hobbesiano, da guerra de todos contra todos para entender a necessidade de um conjunto de regras comumente aceitas e, dentre elas, a importância da honestidade. Seja pagar pelo gabarito da prova do Enem, seja levar comissão em obras públicas, quem faz trapaça está roubando um pouco de cada um, não só em termos materiais, mas principalmente pela infração ao pacto social através do qual contemos nossos instintos mais selvagens em troca das garantias da civilização. Na sociedade ocidental cristã, a figura do trapaceiro é uma das mais odiadas. A trapaça fere várias convenções sociais, entre elas a obediência às regras e a honradez.




A cultura da permissividade tem enormes vantagens - a começar, naturalmente, pelo abrandamento dos costumes repressivos. A contrapartida também é evidente: a ideia disseminada de que cada um pode, e até deve, fazer ou falar o que quiser, mesmo que isso invada o espaço alheio, incluindo os ouvidos. Não dizer o que dá na bola é diferente de contar mentiras. No primeiro caso, quem usa da contenção verbal está obedecendo ao mecanismo de freios sociais pelo qual as opiniões próprias são atenuadas de forma a não ofender os sentimentos alheios. No segundo, a verdade é falsificada para tirar algum proveito, nem que seja promover a própria e engrandecida imagem. Quem acha que tem de "pôr para fora" tudo o que pensa e até invoca o pensamento mágico ("Assim não vou ter infarto") na verdade não está no comando de si mesmo. Viver em sociedade implica abrir mão de certas selvagerias para obter a proteção social que vem da vida em conjunto. Nesse contexto, a má-educação, a ganância desmedida, a negligência ao outro, são todos fatores de desagregação social.




Pressa, pressão, prazos - tudo na vida contemporânea conspira para que o tratamento civilizado seja atropelado mais cedo ou mais tarde. Para isso existe um remédio universal: pedir desculpas. O arrependimento sincero, aquele cuja intenção seja menor aliviar a consciência do ofensor e mais dar uma satisfação moral a quem foi ofendido, é um lenitivo de eficácia comprovada através dos tempos. Só os seres altamente evoluídos se desculpam com classe e naturalidade, mas os demais - ou seja, todos nós - também podem desfrutar o sentimento de paz interior que essa atitude também desencadeia. É só treinar direitinho. Quanto ao momento e ao método corretos para pedir desculpas, gente com os mecanismos psíquicos em estado de bom funcionamento tem um "vergonhômetro" infalível. É aquele sangue que sobe ao rosto quando fazemos algo errado, e que sinaliza o respeito pelo outro. Sem isso, o pedido de desculpas não vale.




O comportamento decoroso surgiu na Igreja Católica, a partir da vestimenta dos padres e das freiras, sempre igual em qualquer ambiente e feita para cobrir tudo de forma e não atentar contra o pudor próprio ou alheio. Com o tempo, o decoro das vestimentas passou para a linguagem e as atitudes. A fala decorosa é aquela que diz o que tem de dizer sem adular ou ferir. O comportamento decoroso é aquele que não ofende os outros, que não agride, que não exibicionista ou apelativo. Pequenos atentados cotidianos ao decoro incluem urrar ao celular em ambientes confinados, ignorar solenemente aquilo que seu cãozinho faz na calçada e ouvir música nas alturas porque "a casa é minha". Ter decoro é entender que a casa é um pouco de todos.