Não é verdade que a Olimpíada aconteça de quatro em quatro anos. Pelo menos para os brasileiros, povo atleta por natureza, os jogos olímpicos se realizam todo dia. É que pouca gente presta atenção. medalha de ouro, de prata, de bronze, em várias modalidades.
Por exemplo, no tiro a equipe do Brasil ganhou o terceiro lugar na primeira Olimpíada de que participou, em 1920, na Bélgica. Fosse hoje, qualquer PM paulista ou carioca dava de 10 a 0 naquela turma.
Revezamento, não tem ninguém pro lixeiro. Procure acompanhar, uma noite, o desempenho da equipe no quarteirão da sua casa. Eles ainda por cima inventaram uma mistura de corrida com basquete, e pode ver: não erram um arremesso de saco naquele buraco do caminhão. Quando chega o verão com as chuvas, revela-se o pessoal dos esportes aquáticos. Natação é bico, eles já saem da porta da rua dando braçadas. Na canoagem ou no iatismo, o brasileiro, sempre criativo, veio com a novidade: é com o automóvel, aquela emoção na enxurrada, sem remo nem vela. Ah, e tem o pólo aquático: em vez da bola, é o móvel da casa que ele vai controlando com os braços acima da cabeça, pra não molhar.
Falar em arremesso, o de tijolo em obra não deixa pedreiro nenhum passar vergonha na modalidade. Assim como o entregador de jornal, grande esportista da madrugada.
Ginástica é com a turma que pega o metrô das seis, exercitando-se no coletivo em dois períodos: pela manhã e à tarde.
E tem melhor maratonista que carteiro? Onde?
Levantamento de peso, vai em qualquer doca aí ver o que é um campeão!
Em modalidades onde o que vale é a porrada, com o boxe (chamado pancrácio, nos primeiros Jogos, na Grécia antiga), o taekwendo, judô, greco-romana, basta ir ao estádio de futebol em dia de decisão de campeonato.
Nos 100 metros rasos, trombadinha é medalha de ouro. Ou camelô na hora do "rapa".
dizem que, além de ciclismo, vão instituir o motociclismo na Olimpíada. Aí não vai ter medalha que chegue para o entregador de pizza.
Hipismo anda meio fraco, mas ainda tem muito peão que tange gado por esse interior afora. Medalha de bronze.
Esgrima é todo fim de mês, salário mínimo contra o aluguel e o fiado.
O beisebol não faz a cabeça do brasileiro, a não ser da polícia; o que tem de policial dando bastonada em nego por aí não é fácil.
No arco e flecha vimos decaindo nos últimos tempos. Na verdade, a decadência começou com os bandeirantes, que foram detonando um a um nossos indígenas, supercraques históricos; depois ainda vieram os grileiros. Daí que nessa modalidade o futuro olímpico está comprometido.
A propósito, na marcha, não demora vamos ganhar todas as medalhas, com os sem-terra.
Mas conosco não tem podosco, como falavam nossos ancestrais. A gente não precisa nem de todo esse aparato que os outros usam, não precisa de centro de treinamento climatizado; nem de tecidos especiais, que não absorvem a água do maiô de natação. O treinamento é no ônibus mesmo, ou no pé-dois. Tudo atleta, campeão de nascença, povo vitorioso, de imbatível espírito olímpico.
Só não vem com badminton. Não vem (com perdão do barão Pierre de Coubertain) com veadagem, que o brasileiro é antes de tudo, macho. É ou não é?
...Com muito amor
Diversidade Cultural
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